segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cristo Rei!

Celebramos hoje Jesus Cristo como Rei Universal. Fixemos os olhos em Jesus pregado na Cruz. Uma cruz é o seu trono real. É a partir daqui, da sua morte pelos nossos pecados, que Jesus Cristo estabelece o seu reinado, um reino de paz e de reconciliação universal.

Jesus Cristo é a meta final da História. É, pois, com razão que encerramos o Ano Litúrgico aclamando-O como «Rei dos Reis e Senhor dos Senhores», o Senhor e Rei de todo o Universo.

E como é que este Rei nos aparece na leitura do Evangelho de hoje? Aquele letreiro afixado na Cruz o proclama Rei. Aos olhos do povo, porém, Ele não passa de um rei de comédia… Feito objeto de troça e sarcasmo, é mesmo desafiado a mostrar o seu poder salvador: «salvou os outros, que se salve a si»; «se és rei, salva-te a ti e desce da Cruz!»

E Jesus mostra o seu poder salvador, não descendo do trono da Cruz, mas levando a cabo, por meio dela, a obra da salvação da Humanidade! Pregado na Cruz, oculta a sua majestade e quer manifestar em que consiste a sua realeza: o perdão para os que O insultam e maltratam; a garantia do paraíso ao ladrão arrependido; o abrir-nos as portas do Reino dos Céus até então fechadas pelo pecado. Não é reduzindo a nada os seus inimigos que Ele estabelece o seu reinado, mas provocando o amor das suas criaturas com o amor que lhes mostra «até ao fim»; assim reconcilia com Deus todas as coisas, «estabelecendo a paz, pelo sangue da sua Cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus» (2ª leitura). O seu reino é «um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz» (prefácio da oração eucarística).

Jesus é Rei porque é Deus feito homem: «n’Ele reside toda a plenitude», isto é, n’Ele “habita corporalmente toda a plenitude da natureza divina” (2ª leitura e Col 2, 9), por isso «em tudo Ele tem o primeiro lugar» (2ª leitura). Com efeito «por Ele e para Ele tudo foi criado» e «Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo» (ibid.).

Mas, assim como acontecia no Calvário, o drama da rejeição do amor deste Rei de Paz e de Misericórdia continua atual. Confrontamo-nos com uma sociedade que teima em viver de costas para Deus e que tenta impor um projeto de vida contrário ao maravilhoso plano de amor e de paz inscrito no coração humano e na própria natureza das coisas. João Paulo II advertia que hoje acontece a difusão duma mentalidade inspirada no laicismo e esta ideologia leva gradualmente à restrição da liberdade religiosa até promover um desprezo ou ignorância do religioso, relegando a fé para a esfera do privado e opondo-se à sua expressão pública, o que nada tem a ver com a justa laicidade do Estado. Ora «uma sociedade em que Deus é absolutamente ausente autodestrói-se; vimo-lo nos grandes regimes totalitários do século passado», como nos ensina o Papa Bento XVI.

Em face desta situação, que vem já do séc. XVIII, Pio XI instituiu esta festa de Cristo Rei em 1925 e mais adiante promoveu a Ação Católica. O grito de S. Paulo, «é preciso que Ele reine» (1 Cor 15, 25) é a aspiração de todo o discípulo de Cristo, que quer opor aos desígnios dos homens da parábola de Lc 19, 14 – «não queremos que Ele reine» – um ideal apostólico, que veio a expressar-se no lema litúrgico: «Regnare Christum vólumus!»(Queremos que Cristo reine!). E foi assim que Jesus nos ensinou a rezar na oração do Pai-nosso: «Venha o teu Reino».

Perante o reinado de Cristo a nossa atitude não pode ser a de ficarmos passivos, limitando-nos a receber os bens do Reino. A vocação cristã implica a missão de ser apóstolo deste Reino. O Concílio Vaticano II, ao falar dos leigos, proclama que, «por própria vocação, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as de acordo com Deus» (LG 31).

Para isso, antes de mais, temos de fazer com que Cristo reine plenamente em nós próprios. Que Ele reine na nossa inteligência, procurando conhecermos cada vez melhor as verdades da fé aderindo interiormente a elas; que Cristo reine na nossa vontade para que ela se identifique com o querer de Deus e o seu projeto de salvação; que Ele reine no nosso coração para que ele não se apegue a nada contrário ao amor de Deus. Só então poderemos dar um testemunho válido e contribuir eficazmente para o reinado de Cristo na nossa família, no nosso ambiente de trabalho, enfim, na sociedade em que vivemos.

O ponto de partida de todo o apostolado eficaz é a procura incansável da identificação com Cristo; esta é a meta que João Paulo II propôs para o novo milênio: «Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade… É preciso, pois, redescobrir, em todo o seu valor programático, o cap V da LG do Concílio, intitulado ‘vocação universal à santidade’» (NMI 30). A propósito, é bem expressivo um ponto do livro “Caminho”, de São Josemaría Escrivá: «Um segredo, um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana. Depois... ‘Pax Christi in regno Christi’ – a paz de Cristo no reino de Cristo» (nº 301).

Dom Antônio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul.
Frederico Westphalen, 21 de novembro de 2010.

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